22 de jan. de 2010


(Maria do Rosário Pedreira)

"Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida – como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida

foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos;
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã."

*O Canto do Vento nos Ciprestes*

2 comentários:

Dalva Nascimento disse...

Maria do Rosário Pedreira é emoção pura... lindíssimo esse poema, Pati!

Bjs.

por Luíza P. disse...

Lindo o poema! Jorra emoções de uma mulher que fomos, somos ou ainda seremos em algum momento da nossa vida: uma mulher apaixonada que termina sozinha, vivendo de lembranças do que um dia foi felicidade.